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DO AMOR INVISÍVEL
Estamos acostumados a dedicar e desenvolver nosso amor a coisas visíveis, que estão ao nosso alcance sensorial, principalmente nas relações afetivas. Isso tem sua importância, pois nas relações materiais é o visível, o que podemos tocar, sentir, comer, digerir, que vai proporcionar a nossa sobrevivência e evolução material. Mas isso é só um aspecto da questão. Existe um outro lado de igual importância ou talvez maior. É o amor invisível, aquele que está colocado no lado transcendental da vida, de onde tudo provém. É onde está localizada a essência de Deus e o seu sopro que anima nosso corpo material.
Encontramos esse confronto, dessas duas formas de amar, o visível e o invisível, nos primeiros livros da Bíblia. Deus, o Ser, o Criador invisível, estabelece uma aliança com seu povo eleito e uma das cláusulas dessa aliança é que esse povo não teria outros deuses para adorar. Porém o povo cede à tentação de materializar o seu deus para torná-lo visível, construindo um ídolo como símbolo de sua força e fecundidade. É a nossa tendência de ter ao alcance dos sentidos o objeto do nosso amor. Dessa forma observamos dois tipos de consciência em confronto: a do povo e sua necessidade de materializar o amor e a de Deus com o objetivo de disciplinar naturezas rudes para viver a essência do Amor no plano transcendental.
Até hoje esse confronto é disseminado por toda a sociedade, por todas as classes sociais e principalmente nas relações entre homens e mulheres. Logo que o Amor dá sinais de germinação no coração de duas pessoas, há uma tendência universal, própria da natureza humana, animal, material de querer o objeto daquele amor o mais próximo de si, a qualquer momento. Muitas vezes adquire características obsessivas, uma paixão doentia. A natureza transcendental do Amor é pouco tolerada, às vezes considerada como negativa, destruidora. O homem/mulher nesse momento está voltado apenas para a característica imanente, material, do Amor. A conseqüência vem logo em seguida como aconteceu na Bíblia: a destruição do ídolo. O Amor sem suas características transcendentais, jaz agora aos cacos pelo chão e os adoradores desse tipo de materialidade. Desalentados, destroçados.
A lição que fica é que devemos considerar os dois lados da vida, o imanente (material) e o transcendental (espiritual). Em se tratando do Amor, devemos considerar sua origem no mundo transcendental e a essa condição dar maior importância dentro do relacionamento.
Quando a pessoa que amamos estiver presente, que nos sintamos felizes e regozijados, que possamos interagir com nossos corpos materiais na dimensão do prazer físico, sensual, sexual e atingir a plenitude orgástica que a matéria pode oferecer.
Quando a pessoa que amamos estiver ausente, que nossos corações aprendam a sintonizar com o Amor que emana dele e para ele vai, independente da distância, do tempo e dos cães que ladram à beira da estrada no caminhar da caravana. Que sejamos felizes com esse preenchimento transcendental do Amor em nossos corações, pois é a parte mais importante, que jamais irá sofrer as transformações que o tempo traz sobre a matéria, do decaimento do vigor físico, da beleza juvenil. É esse Amor transcendental que está na origem de Deus e se confunde com Ele. E quando amanhã, estivermos novamente na presença física do ser amado, esse encontro físico será sublime, pois nossos corpos materiais estarão recheados do Amor transcendental. O êxtase do orgasmo seria atingido não só através das áreas genitais, mas por um abraço, um beijo, uma carícia... um simples olhar!
Não importa o tempo que seja, um minuto, uma hora... o tempo material pode parecer uma migalha, mas tal o grão de mostarda, crescerá como o Big Bang das estrelas e iluminará toda a nossa existência como um retorno ao seio amoroso do Criador. Pode ser que a despedida lembre uma dolorosa saudade que virá, mas além dela existe a esperança que garante que nova explosão de vida com Amor acontecerá.
E dessa forma a vida fluirá, a matéria se organizará, o Amor sempre estará presente em todas as suas dimensões e o ser amado jamais sairá de dentro dos nossos corações.



Sióstio de Lapa
Enviado por Sióstio de Lapa em 26/12/2011
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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr