Logo na primeira questão do Catecismo de São Pio X, há uma frase que me chamou a atenção: “Deus por ser muito bom, quis dar a todos os seres que hoje existem um dom precioso: o dom da existência.”
Volto ao que está sendo ensinado no referido Catecismo. Deus está só no mundo. É um Ser existente e que não foi criado. Esta é uma conclusão necessária, pois senão o nosso raciocínio entraria em parafuso em busca desse Ser, incriado e capaz de criar tudo. Então, para evitar entrar na infinitude dessa procura que sabemos que o Ser existe lá, o nosso racional aceita que este do qual falamos agora é o Deus criador.
Deus vai criar tudo que existe com o poder de Sua imensa sabedoria, comparada com a nossa que está ainda em processo de aprendizagem, em busca da essência do Criador. Todos os seres criados devem estar harmonizados dentro da Natureza formada e seguindo um progresso que seja conveniente para todos, nas duas dimensões, material e espiritual onde a evolução acontece.
Portanto, tudo que Ele vai criar deve se reportar a Ele, pois não tem outro ser. O ser vivo que vai ser criado deve cumprir as leis da Natureza que também foram criadas por Deus, para que o Seu mundo seja dinâmico como um filme e não estático como um retrato. E, principalmente, que o ser vivo criado tenha capacidade de raciocínio e discernir o que é certo ou errado dentro do contexto em que está vivendo, no mundo material.
Por esse motivo observamos toda uma dinâmica inicial de seres que se digladiam em busca da sobrevivência, onde se observa a lei do mais forte, do mais apto a manter a sua própria sobrevivência e a sobrevivência de sua prole. Até aqui não há problemas, pois o ser vivo está agindo dentro da evolução obedecendo aos instintos que se motivam em busca de prazer para alcançar a alimentação e o sexo, para a preservação do corpo e da espécie.
Conforme a previsão do Criador, o processo evolutivo vai gerar algum ser com uma capacidade de processamento racional capaz de compreender o contexto da Natureza, avaliar o que é bom ou ruim para si e seus parentes, e nesse momento é quando o escritor do Catecismo imagina Deus ser bom para nós humanos, por usufruirmos toda a riqueza e beleza da Natureza.
Imagino que o catequista ao escrever, esteja em um ambiente confortável, longe do fogo de um vulcão, dos tremores de um terremoto, das agonias de um tsunami ou mesmo das garras de um animal selvagem ou de um serial killer humano. Quem estivesse em uma dessas situações poderia dizer que Deus era mau por lhe causar tanta dor e destruição.
Portanto, seria mais conveniente não adjetivar Deus como bom ou mau, e sim que nos criou com um propósito de alcançarmos a sua intimidade com Ele no fim de nossa evolução vivencial.
Dai, a nossa pouca sabedoria pode nos fazer imaginar que esta é a respiração de Deus, jogar na Natureza pingos de Sua essência, simples e ignorantes, todas com o potencial de evoluírem até alcançarem a perfeição e a sua integração com o Criador, como se fosse um processo de inspiração onde iríamos nutrir a Sua psicofisiologia e sermos jogados de volta na Natureza no ato da expiração.
Assim estamos no transcurso da eternidade na simbiose com Deus, criada por Ele mesmo, e nós, com erros e acertos, vamos nos depurando, burilando o nosso comportamento até fornecer a Deus o “oxigênio” que Ele espera de nós.
Enfim, posso concluir que Deus é bom para nós enquanto formos bons para Ele, cumprindo as Suas leis, formando a família universal, capaz de nos conduzirmos como cidadãos dentro do Seu Reino espiritual, eterno, e não como animais, querendo formar famílias exclusivas e parasitas em reinos etéreos dentro da dimensão material.