Fui chamado para mediar o conflito que estava estourando na casa de Dioclécio, que ele estava enfurecido, agindo com ameaças e agressões. Sua esposa sabia que podia conversar com ele na minha presença, pois ele iria ouvir.
Concordei e fui até sua casa. Dioclécio estava comendo churrasco de frango com batata cosida e me ofereceu. Não faz bem o meu gosto, mas como eu não havia comido nada durante o dia e serviria para manter o nível de amizades que sempre temos, aceitei.
Enquanto eu comia junto com ele, chegaram a esposa e as duas filhas. As filhas permaneceram caladas, mas a esposa comecou a falar, descarregando sobre ele uma série de acusações durante um bom tempo e que já me preocupava, pois Dioclécio calado, apenas mostrava em alguns momentos, movimentos como de falar ou de se retirar.
Quando eu senti que a esposa tinha colocado tudo o que estava acontecendo de mais importante e que já começava a se repetir, pedi para ela parar para dar a oportunidade de Dioclécio falar. Com certa dificuldade, depois de pedir algumas vezes, ela conseguiu parar.
Dioclécio comecou a falar e colocar sua versão dos fatos, mas logo a esposa o interrompia e o relato caminhava para discussão. Foi necessário a minha intervenção por diversas vezes para deixar que o marido colocasse algo do que sentia.
Dentro de tal ambiente, percebi que não era conveniente colocar a proposta de conciliação, o emocional estava muito estragado e o melhor seria a separação. Eles aprovaram a sugestão de separação, com Dioclécio saindo de casa para a posteriori ver no consenso ou na justiça a justa separação dos bens.
Terminamos a reunião com esse acordo e sugeri a Dioclécio que me acompanhasse para conversarmos sozinhos sobre a sua saída da casa. Ele disse que não tinha recursos para saída de imediato, mas eu disse que lhe apoiava financeiramente no que fosse necessário. Além disso, ele sabe que tenho uma casa no sítio em Capela e que ele poderia ir para lá no tempo que necessitasse. Ele disse que tinha um terreno e que poderia começar a construir uma tapera por lá, mas estava com problemas nos olhos e tinha que gastar dinheiro para curar, senão não podia trabalhar. Eu disse que trabalhava junto com a secretária de outro departamento que tem professor oftalmologista e que ria ver se seria possível esse tratamento por lá sem necessidade de pagar. Ele agradeceu e antes de sair pediu para dormir no ambiente da clinica que fica vizinho à sua casa.
No dia seguinte recebi a notícia que a esposa estava com medo, que ele havia quebrado a televisão da casa, que iriam para a polícia pois estava havendo medo de morte.
Foi neste ponto que perdi a minha condição de resolver a questão fraternalmente. Eu teria orientado a saída de casa da esposa e das filhas para evitar o medo da morte. Quando eu chegasse à noite iria falar com ele que se encontrava sozinho em casa sobre o acordo que havíamos feito, o que tinha acontecido para ele destruir um objeto doméstico e deixar a esposa apavorada com medo dele. Certamente ele iria dizer suas razoes e eu iria reforçar que era necessário a saída dele o mais rápido possível para que houvesse condições de sua família voltar para casa sem a presença dele e tudo se resolver em clima de amizade, pois afinal são mais de vinte anos de relacionamentos onde muita coisa boa aconteceu. Poderia até lembrar a ele sobre uma história que li em uma das nossas reuniões da Escola do Evangelho, sobre a atitude de uma pessoa que foi agredida pelo amigo e que escreveu aquela agressão na areia; em outro momento ele estava se afogando e aquela pessoa correu para salva-la. Assim que pôde ele escreveu o fato na pedra. Quando interrogado pela pessoa o amigo disse: sempre escrevo o que fazem de mal comigo na areia para o vento levar, mas o bem que fazem comigo escrevo sempre na pedra para o tempo não apagar. Pediria a Dioclécio que lembrasse dessa história que tanto encantou a todos nós quando foi contada, e que aplicasse na sua vida.
Deixaria ele dormir na sua casa sozinho e no dia seguinte iria vê-lo e perguntar se havia decidido alguma solução. Poderia até ampliar ainda mais as opções que em nossa primeira conversa não lembrei, dele ficar na casa que alugamos em Muriú até quando ele tivesse outra solução. Diria a ele que iria participar de uma reunião com Michele Bolsonaro com Simone sua mulher e as duas filhas e que ao terminar iríamos almoçar juntos e aproveitar um pouco da Praia que fica perto do meu apartamento.
Mostraria a ele, que apesar dele ter razão em vários aspectos, era importante agora a sua decisão de se afastar o mais rápido possível da zona de conflito para trabalharmos com amor e tolerância de todas as partes a recuperação da harmonia na família que ele construiu e em ambas as famílias associadas, a família dele e da esposa.
Acredito que esse apelo sem jogar sobre ele a força da justiça, mas sim a força do amor, seria suficiente para quebrar tanta hostilidade, afinal já tive o sucesso com uma pessoa que me conhecia muito menos e que pensava que eu iria assassinar também sua filha e jogar no matagal.
Sei que o demônio pode penetrar na mente de quem permite que o monstro de sete cabeças, entre elas o ódio, domine os pensamentos, sugerindo coisas macabras como matar (assassinar) ou morrer (suicídio). Mas o Mestre conseguia expulsar todos esses demônios e deixando a pessoa livre para fazer a vontade de Deus, como aconteceu com Maria Madalena e outras pessoas.