Vou transcrever neste espaço algumas críticas que são feitas sobre o Cristianismo para que possamos colocar nossas reflexões.
REFUTAÇÃO AO DANIEL GONTIJO: O CRISTIANISMO é uma FARSA?
Por Emerson de Oliveira em 23/05/2025
Em mais um vídeo palpiteiro Daniel Gontijo vem alegando bobagens. Vamos fazer uma refutação ponto a ponto.
Daniel Gontijo, em seu vídeo intitulado "O Cristianismo é uma Farsa?", apresenta diversas críticas ao cristianismo histórico, à revelação dos evangelhos e à doutrina cristã tradicional. Este artigo visa responder de maneira fundamentada a cada uma dessas questões, demonstrando uma solidez histórica e teológica da fé cristã.
[00:37–01:16] – "Nenhum dos Evangelhos foi escrito por apóstolos ou testemunhas oculares"
Alegação: Os evangelhos foram escritos muito tempo depois, por autores anônimos e que não conviveram com Jesus.
Refutação: Essa é uma hipótese da alta crítica , mas não é consenso. Embora os evangelhos tenham sido compostos algumas décadas após os eventos, há fortes evidências internas e externas de autoria tradicional:
Evangelho de Marcos: Papías (séc. I–II), citado por Eusébio, afirma que Marcos escreveu baseado nas memórias de Pedro.
Lucas: O prólogo de Lucas (Lc 1:1–4) segue o estilo historiográfico greco-romano, diminuição baseada em testemunhas oculares.
Mateus: Embora debatido, sua associação com um apóstolo está atestada desde o séc. II (Papías, Irineu).
João: Possui traços internos de testemunho ocular (Jo 21:24) e foi atribuído ao apóstolo João por Irineu , discípulo de Policarpo, que foi discípulo do próprio João.
Estudos como os de Richard Bauckham (Jesus and the Eyewitnesses) argumentam que a cultura judaica da época valorizava a memória oral precisa, especialmente em comunidades religiosas. Além disso, os Evangelhos contêm detalhes específicos de lugares, trajes e figuras políticas que só poderiam ser conhecidas por quem vivia na Palestina do século I.
Portanto, a distância temporal não invalida automaticamente a historicidade das narrativas.
Fontes:
Richard Bauckham, Jesus e as Testemunhas Oculares (2006)
Craig Blomberg, A confiabilidade histórica dos Evangelhos (2007)
[01:54–02:30] – "Evangelho de João tem apenas 10% de reposição histórica"
Alegação: João tem pouca substituição e seria pura teologia.
Refutação: A afirmação de "10%" é arbitrária e sem base em consenso científico. Apesar de João conter teologia desenvolvida, descobertas arqueológicas e paralelos históricos confirmam detalhes específicos, como:
Piscina de Betesda (Jo 5:2), confirmada arqueologicamente.
Condenação por parte de Caifás e Pôncio Pilatos, presente também em fontes externas (Flávio Josefo, Tácito).
Essa divisão entre “Jesus humano” nos sinóticos e “Jesus divino” em João é uma visão simplificada. Em Mateus, por exemplo, Jesus é chamado de “Emanuel” (Deus conosco) e é adorado como divino pelos discípulos (Mt 14:33). Em Lucas, Jesus perdoa pecados (Lc 5:20-24), algo que, no contexto judaico, era prerrogativa exclusiva de Deus.
João, embora teologicamente mais desenvolvido, pode ter preservado tradições antigas sobre a consciência de Jesus sobre si mesmo. A fórmula do “Filho de Deus” já estava presente nas confissões das primeiras comunidades cristãs e reflete uma crença emergente muito antes de João escrever seu Evangelho.
Portanto, a ideia de que João é apenas teologia sem fundamento histórico é contestada por muitos especialistas, inclusive judeus e agnósticos como Geza Vermes e EP Sanders.
Fontes:
DA Carson, O Evangelho Segundo João (1991)
Craig Keener, O Evangelho de João: Um Comentário (2003)
[03:07–03:41] – "Só no Concílio de Niceia (325) Jesus foi considerado Deus"
Alegação: A revelação de Jesus foi oficializada apenas no Concílio de Niceia.
Refutação: Essa é uma meia-verdade. O Concílio formalizou uma doutrina já amplamente crida e discutida desde o século I:
As cartas de Paulo (1Co 8:6; Fp 2:6-11) já identificam Jesus com Deus.
O Evangelho de João (Jo 1:1) declara: “O Verbo era Deus”.
Cartas patrísticas anteriores a Niceia, como Inácio de Antioquia (início do séc. II), chamam Jesus de "nosso Deus".
É verdade que havia pluralidade de visões sobre Jesus no primeiro século, mas isso não significa que todas fossem igualmente válidas ou representativas da fé original. As cartas de Paulo, escritas entre 50-60 dC, já mostram uma crença consolidada na ressurreição de Jesus e em sua natureza messiânica e salvífica.
O Concílio de Nicéia (325 dC) não “inventou” a divindade de Cristo, mas buscou resolver disputas teológicas que surgiram décadas após o período apostólico. A doutrina da Trindade tem raízes em passagens bíblicas e em reflexões teológicas dos primeiros séculos, e não surgiu ex nihilo nesse concílio.
Assim, houve embora debates, a visão trinitária não foi uma invenção arbitrária, mas sim uma manifestação de expressão de forma coerente a experiência da presença divina em Cristo.
Fontes:
Larry Hurtado, Senhor Jesus Cristo (2003)
Richard Bauckham, Jesus e o Deus de Israel (2008)
[06:04–06:41] – "1 João 5:7 é uma interpolação"
Alegação: O trecho trinitário em 1Jo 5:7 foi uma adulteração posterior.
Refutação: Correto, esse trecho específico é considerado uma interpolação (Comma Johanneum) ausente nos manuscritos gregos mais antigos. No entanto:
A doutrina da Trindade não se baseia apenas nesse versículo. Ela é construída a partir de todo o Novo Testamento, com base nas ações e naturezas atribuídas ao Pai, ao Filho e ao Espírito.
Fontes:
Bruce Metzger, Um Comentário Textual sobre o Novo Testamento Grego (1994)
Millard Erickson, Deus em Três Pessoas (1995)
[06:41–07:55] – "A Bíblia foi adulterada, manipulada com milhares de variações"
Alegação: A Bíblia foi manipulada por escritores com objetivos teológicos.
Refutação: A crítica textual admite muitas variantes , mas:
99% são insignificantes (ortografia, ordem de palavras).
Nenhuma alteração variante doutrinas essenciais da fé cristã.
A existência de mais de 5.800 manuscritos gregos permite comparar e reconstruir com altíssima precisão o texto original.
Fontes:
Daniel B. Wallace, Revisitando a Corrupção do Novo Testamento (2011)
Bruce Metzger e Bart Ehrman, O Texto do Novo Testamento (2005)
Obs: O próprio Bart Ehrman admitiu em entrevistas (como no debate com Daniel Wallace) que as doutrinas centrais cristãs não são afetadas pelas variantes textuais.
[07:55–08:31] – "Bart Ehrman se desconverteu por isso; Bíblia é humana demais"
Alegação: A fé cristã foi abalada por causa das variantes e da humanidade dos textos.
Refutação: A crise de fé de Ehrman foi pessoal e não um consenso entre estudiosos. Vários especialistas, mesmo críticos, continuam afirmando a confiabilidade geral do Novo Testamento.
Exemplo: Craig Evans, NT Wright, Gary Habermas, Ben Witherington III — todos confirmados como variantes, mas mantêm a confiabilidade dos evangelhos.
Crítica ao papel da psicologia e da religião (08:31)
Afirmação: “Mesmo com todas as construções humanas, ainda pode haver espaço para fé e espiritualidade.”
Refutação: Apesar de Gontijo reconhecer a dimensão humana da religião, ele não oferece alternativas ou explicações positivas para o religioso. Estudos de neurociência e psicologia cognitiva sugerem que a tendência religiosa faz parte da estrutura cognitiva humana e pode estar relacionada a padrões evolutivos de busca de sentido e moralidade.
Isso não invalida a fé nem reduz a religião a mero produto psicológico. Muitos filósofos contemporâneos, como Alvin Plantinga e William Lane Craig, defendem que a crença em Deus pode ser racionalmente justificada independentemente de provas empíricas. A ciência pode explicar como a religião surge, mas não necessariamente porque ela surge ou se é verdadeira.
Conclusão
Embora o vídeo de Daniel Gontijo levante questões legítimas sobre autoria, crítica textual e teológica, ele ignora nuances e consensos acadêmicos importantes, além de estudar dados verdadeiros com extrapolações ideológicas, a fé cristã não se apoia em uma versão idealizada da Bíblia, mas sim em fundamentos históricos, destruídos, textuais e teológicos sólidos.
Estes são exemplos de discussões críticas que existem ao redor da existência de Jesus e Seus ensinamentos. Elas partem de diversas narrativa que cada autor possui, afirmando ou refutando determinado trecho em foco. Da mesma forma nós possuímos nossas próprias narrativas que são corrigidas ou afirmadas com o conhecimento das narrativas que surgem ao nosso redor. Dessa forma é que possuo a minha própria narrativa e fico apenas a contemplar o que existe nas outras narrativas, sem me envolver na discussão de afirmar ou negar o que está escrito. Prefiro seguir aproveitando o que é defendido por terceiros para corrigir a minha própria narrativa, seguindo as minhas intenções de fazer a vontade de Deus conforme o ensinamento do Caminho da Verdade ensinado pelo Cristo e assim seguir no meu progressismo espiritual.