Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
23/05/2025 00h01
SEGUNDA PERGUNTA - POLÍTICA

            Muito bem, professor, entendemos a mudança do seu foco acadêmico da materialidade para a espiritualidade. Porém, outra mudança de foco ocorreu paralelamente a esta, que foi sua atuação dentro da academia e dentro dos consultórios para uma atuação política. Isso não iria anular suas atuações anteriores, sua formação básica?



            Sim, é verdade, a minha progressão numa carreira política iria me afastar, talvez definitivamente, das minhas atuações acadêmicas e clínicas. Porém, mais uma vez a minha consciência direcionou a minha conduta. Durante o meu trabalho clínico eu observava as condições dos pacientes que me procuravam, principalmente nos bairros pobres onde eu atuava. Pessoas que lutavam pela sobrevivência e que iam em busca de cuidados para seus sofrimentos. Eu fazia o diagnóstico, aplicava uma psicoterapia, prescrevia um medicamento ou encaminhava para uma internação. A pessoa retornava com os mesmos problemas atenuados pela psicologia ou pelos psicofármacos, que serviam como bengala na caminhada da vida. Percebi que as decisões políticas eram que judiavam do povo, que tirava dele sua dignidade humana e daí gerar os sofrimentos psíquicos e doenças clínicas as mais diversas. A espiritualidade que já estava tomando conta da minha consciência, apontou para o caminho político como forma de solucionar na base uma questão tão ampla. Procurei ver qual o partido político que poderia atender as minhas necessidades de ajudar ao próximo. Os partidos políticos que estavam no poder não eram os mais apropriados, pois eram eles que estavam gerando os problemas que eu estava observando. Observei os partidos de Esquerda que faziam as críticas ao status quo parecidas com aquelas que estavam em minha consciência. Era uma época propícia para o engajamento de pessoas jovens e idealistas em movimentos revolucionários. O Partido dos Trabalhadores (PT) estava em plena formação, com grupos se reunindo nas universidades com esse objetivo. Participei de algumas reuniões com esse objetivo, mas não sintonizei com o clima de radicalidade extrema, desse futuro partido. Terminei me filiando a um partido menos agressivo, o Partido Democrático Trabalhista (PDT) onde já militava alguns professores meus, colegas da psiquiatria, como Maurilton Morais e Edson Gutemberg. Passei a ser também um dos militantes e fui candidato a cargo publico como vereador, deputado estadual, deputado federal e até vice-governador. Em todas lutas políticas mantive sempre o meu lema: “Pela Dignidade Humana”. Nunca usei qualquer benefício que eu podia oferecer ao eleitor em troca do seu voto. Procurava deixar sempre sua consciência livre para votar no melhor candidato que ele considerava. Esta era a minha prova inconteste de que eu respeitava a dignidade daquela pessoa que naquele momento precisava de mim. Mas ela também precisava de outras coisas que outros políticos, sem esses escrúpulos, podiam oferecer. Resultado: na eleição eu obtinha o voto daquela pessoa que se sentia considerado por mim, mas dava 100 outros votos que ele trabalhou para distribuir os benefícios que recebia, tanto para ele quanto para os seus votos “comprados”. Deixei de me candidatar, percebi que eu não podia ser eleito dentro dessa estratégia e da qual eu não queria compartilhar, pois não sintonizava com minha consciência. Continuei a votar e defender os argumentos que esses candidatos de esquerda faziam, principalmente o Brizola, líder do meu partido e do Lula, líder do PT. Conseguimos eleger o Lula como presidente do Brasil e esperei pelas mudanças que iria trazer dignidade ao povo e saúde aos meus pacientes. Mas o que observei foi a compra vergonhosa da compra de votos dentro do próprio congresso, do mesmo jeito daquelas que aconteciam nos bairros pobres, comprando a consciência e a dignidade dos miseráveis, marginalizados. Percebi que a miséria moral estava entre os pobres e entre os ricos, todos dentro de um ritual carnavalesco e macabro, onde as dores de muitos serviam de afrodisíaco para os prazeres de poucos. Eu não podia compactuar com isso! Desencantei com as palavras bonitas da Esquerda, abominei os líderes que levantavam tais bandeiras vermelhas, que agora eu considerava como um alerta à minha consciência. Procurei ver ao meu redor quem poderia ser o líder que minha alma ansiava. Não encontrei ninguém que não tivesse a mácula de enganar ao próximo para alcançar seus objetivos. Fui aos livros de história e encontrei uma pessoa com o perfil que minha alma ansiava, que defendesse a Verdade com a própria vida, se fosse necessário: Jesus de Nazaré, na Judeia! Foi aí que minha consciência despertou, de um líder político de um alcance que atingia a espiritualidade, um ponto onde já estava bem situada a minha forma de cuidar de meus pacientes. Este foi o motivo de minha tentativa de trocar o trabalho acadêmico e clinico pelo trabalho político tradicional, que foi frustrado. Voltei ao trabalho acadêmico e clínico, mas desta vez fortalecido, pois havia encontrado um líder que estava presente na História cujos ensinamentos são úteis até os dias de hoje e que se aplicam em todas as áreas, desde a política até a academia e clínica. É aqui que estou situado.


Publicado por Sióstio de Lapa
em 23/05/2025 às 00h01