São 4 horas da manhã. O dia está iniciando apesar do sol ainda não ter aparecido. Tudo está escuro. Mas estou olhando para o Céu e nada vejo... nem estrelas!
Logo uma luminosidade vai surgindo e percebo que existe muitas nuvens escuras no horizonte, impedindo a claridade plena do sol que já está dando início do seu nascimento.
Vejo que as nuvens não formam um bloco compacto, que existem espaços por onde passa uma maior claridade. E tudo é dinâmico, as nuvens caminham numa só direção impulsionadas pelo vento e formam figuras aleatórias, sem aparente significado.
Cada momento que o tempo traz vejo que o compacto das nuvens escuras vai se diluindo e percebo que sobre algumas já surge uma tonalidade amarelada da luz do sol que se mostra mais visível naquelas nuvens que não são tão escuras.
Distingo a voar abaixo dessas nuvens algumas aves de cor escura, um voo lento, como se planassem ao sabor do vento observando o que se passa abaixo. Identifico que são urubus e que procuram abaixo, na terra, algum corpo em decomposição para os quais elas se dirigirão para fazer suas refeições.
Agora estou observando que prevalece os espaços vazios do firmamento, as nuvens escuras estão se reduzindo e as nuvens claras ficam cada vez mais resplandecentes da luz que estão recebendo.
Os urubus, pretos, lentos e silenciosos deixam o lugar no firmamento para as aves claras, ligeiras e canoras.
A realidade da natureza, nos céus e a na terra surge com clareza, a verdade se mostra evidente, acima das falsas percepções que as sombras pudessem infligir à nossa imaginação.
Assim se passa no horizonte de nossas consciências. No início, tudo são trevas originadas pela ignorância na qual fomos criados. Mas lentamente a luz do Criador vai clareando a nossa consciência, conseguimos perceber a realidade cada vez melhor, com base na verdade e eliminando a falsa impressão das sombras.
As aves que minha consciência percebe têm um significado especial. Os urubus, aves lentam que planam mais alto, próximos das nuvens escuras, são as pessoas que estão mais sintonizadas com as trevas, que procuram abaixo de si os corpos que foram abatidos pela morte, que estão em decomposição, para leva-los em seus ventres; os pardais, aves menores e mais rápidas, voam próximos de nós com seus barulhos peculiares, são as pessoas que procuram sentir a presença de Deus em suas vidas, que se alegram com a luz do Criador e cada vez mais perceptível a presença do Amor .
Dessa forma estamos nós a cada dia das nossas vidas, vendo a claridade da presença do Criador na Natureza da qual fazemos parte. Cabe a nós agora sentir o Amor pelo qual Ele nos criou e reproduzir esse mesmo tipo de amor por onde andarmos. Sermos as aves rápidas, mensageiras do Criador, e evitar sermos as aves lentas mais próximas das trevas e que se alimentam da decomposição dos nossos corpos biológicos, efêmeros.