Meu Diário
16/03/2024 19h36
SOMBRAS, NADA MAIS

            Minha vida foi sempre luminosa, lembro bem, principalmente desde a adolescência quando meus sonhos românticos começaram a invadir minha mente. Sonhava que encontraria a mulher perfeita, que fosse minha cara-metade, minha alma gêmea e que se tornasse carne da minha carne.



            Um dia encontrei aquela que parecia ser o complemento que eu esperava para que eu me capacitasse em alcançar plena felicidade. Bastou eu olhar pela primeira vez em seus olhos e sentir que a minha luminosidade se expandiu cobrindo toda a minha alma e que se expandia além do meu corpo. Todos que me conheciam, viam na minha expressão que eu era um novo homem. Um homem apaixonado.



            Tive a sorte dela aceitar conviver comigo, pensava que ela sentia o mesmo que eu, pois eu ouvia suas juras de amor eterno que encantavam meu coração.  Mas foi engano, logo percebi que eram falsas essas juras de amor e fui jogado dentro de um penoso drama, um profundo e doloroso fundo de poço, com sombras tristes a cobrir minha alma, nada mais ficou da luz que me iluminava.



            Se ela me amasse o quanto eu imaginava, entenderia o quanto estou sofrendo, entenderia o dilema do meu coração que tanto ama e que não é feliz.



            Não encontro mais a luz que eu possuía antes. Agora só encontro sombras ao meu redor, sombras e nada mais; que torturam meu ser, apertam o meu coração, angustiam a minha mente. Penso que vou morrer, no mínimo enlouquecer.



            O que me contenta é que hoje sei que ela está feliz, vivendo ao lado de outro, mesmo que eu me ache aqui sozinho, sofrendo sua falta, morrendo aos poucos num drama que parece não ter fim.



            Só encontro essas sombras cada vez mais tenebrosas que escurecem os dias mais claros, espantam minhas esperanças, assustam minhas alegrias.



            Mas, se um dia fizeres o mesmo que fez comigo com este alguém que em teus braços está, se não tiveres para onde ir, podes voltar para mim. Continuo com o mesmo amor, suplicante, guardado, registrado dentro do baú da minha vida.



            Mas, se realmente estás feliz, se tu amas realmente a essa pessoa, peço que me esqueça; esqueça que um dia te amei com tanta força do coração. Não quero que este outro, inocente do que passei e continuo a sofrer, pense que um dia tal coisa aconteça com ele e venha a viver como eu vivo hoje, sozinho, coberto pelas sombras da minha solidão, a torturarem o meu ser, a beira da loucura, aos poucos morrendo, sem nunca mais ter alegria.



            Estas emoções varam os frios das madrugadas e se espalham pelos campos e cidades, de norte a sul e leste a oeste... cobrem as mentes e corações de pessoas empunhando seus violões e de olhos charcos a sonhar com suas amadas distantes e inacessíveis. Talvez em alguns deles surjam na mente esses versos que hoje podemos encontrar nas vozes de alguns cantores em melodias batizadas como “Sombras, nada mais” e suas várias versões.



Publicado por Sióstio de Lapa em 16/03/2024 às 19h36


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr