Meu Diário
16/06/2022 00h01
CORAGEM OU SEDUÇÃO - CORRENDO

            Neste dia que fui correr na praia a maré estava baixa. Quando estava chegando na proximidade do Forte dos Reis Magos, uma das principais atrações turísticas de Natal, minha cidade, encontrei vindo em minha direção uma pessoa caminhando sozinha, sem camisa, meio desconfiado. Ao passar por mim, imaginei que poderia ser um assaltante e me pegar pelas costas e anunciar o assalto com olho no meu relógio. Não é uma peça valiosa, mas quem sabe o que passa na cabeça de quem tem más intenções?



            O que eu faria se tal acontecesse? Fiquei imaginando... eu poderia me virar rapidamente e de surpresa para ele e conseguir desarma-lo. Isso é, se ele tivesse alguma arma consigo, talvez uma faca. Arma de fogo não teria, pois eu teria notado, já que ele caminhava somente de calção.



            Esta foi minha ação de coragem dentro da imaginação. Não é que isso seja de todo inócuo, não cause nenhum efeito fisiológico ou emocional. Fica sempre a preocupação do que é imaginado se tornar realidade. Observei até mesmo um policial gorducho que talvez prestasse serviço no Forte, a se aproximar das pedras que contém o mar. Bem que ele poderia atuar num possível combate com o possível assaltante. E talvez ele confundisse quem seria o autor do ataque, pois talvez só percebesse a minha reação de defesa, e partisse em defesa do “assaltante”.



            Fui correndo até perto do muro do Forte e fiz o retorno ainda correndo indo dessa vez na proximidade dos manguezais. Foi aí que surgiu na minha imaginação o segundo ato desse meu dia de corrida. Vinha em minha direção outra pessoa, esta bem mais nutrida que a primeira, um corpo de que frequenta academia. Vinha também de calção e a camisa sobre o ombro. Na minha imaginação veio novamente a cena do assalto, que é o crime mais comum, principalmente em quem corre sozinho na praia com um relógio no pulso. Dessa vez, a estratégia de surpreender o possível segundo assaltante com uma virada brusca do corpo não daria certo, pois este tem um físico maior que o meu. Caso ele fosse um assaltante e disposto a trabalhar neste horário, eu estaria frito. Mas notei no seu jeito de caminhar e olhar, não um aspecto desconfiado, ameaçador. Este caminhava com certa displicência, olhando a natureza e jogando a camisa de um lado ao outro sobre os ombros. Não percebi ameaça, pelo contrário, era um ar amistoso, quase sorridente. Pela forma de andar associei ao sexo feminino e, portanto, poderia ser um homossexual a procura de algum parceiro. Bem que eu não sou nenhum modelo masculino de despertar tanto desejo carnal, mas quem está na carência talvez não possa escolher demasiado. Enquanto eu cruzava com ele, o medo de sofrer um ataque em busca de um bem material mudou. Agora passei a temer por um assédio mais vigoroso a minha integridade moral.  Pior é que, quando o primeiro suspeito ficou para trás, surgiram outros dois à minha frente, com o mesmo perfil homossexual. Minha imaginação se recusava a entrar em sintonia com outras formas de pensamento, de realização construtiva em outras áreas de oportunidades. Teimava em ficar circulando em várias formas de sedução que eu poderia ser abusado por homossexuais, por pessoas que eu não tinha o menor interesse ou desejo sexual, que parecia habitar com tanta desenvoltura e quantidade naquela praia.



            Deixo aqui esta crônica com pitadas de humor escrachado, já que não posso classifica-lo em humor negro. Agradeço a minha imaginação por não ter entrado por caminhos abstratos mais doloridos para a consciência.



Publicado por Sióstio de Lapa em 16/06/2022 às 00h01


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr