Meu Diário
19/01/2022 22h30
SÉCULO 21 (05) – IDEOLOGISMOS

            Encontrei o pensamento de Yuval Noah Harari mesmo depois de ter adquirido os seus três livros, bastante difundidos no mundo. O autor nasceu em 1976, em Israel, Ph.D. em história pela Universidade de Oxford, é atualmente professor na Universidade Hebraica de Jerusalém. Considerei bastante relevante após ouvir os dois primeiros livros, Sapiens e Homo Deus. Resolvi ler este terceiro livro, 21 Lições para o Século 21, e fazer a exegese por trechos sequenciais. por considerar existir uma falta de consideração com a dimensão espiritual, indispensável para as conclusões que são tomadas em todos os ângulos em investigação histórica. Convido meus leitores especiais a caminhar comigo nesta nova maratona racional onde pego carona com o brilhante intelecto do autor Yuval.



            O livro começa examinando o atual impasse político e tecnológico. No final do século XX tudo levava a crer que as grandes batalhas ideológicas entre fascismo, comunismo e liberalismo tinham resultado na vitória arrasadora do liberalismo. Democracia política, direitos humanos e capitalismo de livre mercado pareciam destinados a conquistar o mundo inteiro. Mas, como de costume, a história dá voltas inesperadas, e após o colapso do fascismo e do comunismo agora o liberalismo está emperrado. Então para onde caminhamos?



            Essa pergunta é especialmente incômoda, porque o liberalismo está perdendo credibilidade justo quando as revoluções gêmeas na tecnologia da informação e na biotecnologia enfrentam os maiores desafios com que nossa espécie já se deparou. A fusão das duas áreas pode em breve expulsar bilhões de seres humanos do mercado de trabalho e solapar a liberdade e a igualdade. Algoritmos de Big Data poderiam criar ditaduras digitais nas quais todo o poder se concentra nas mãos de uma minúscula elite enquanto a maior parte das pessoas sofre não em virtude de exploração, mas de algo muito pior: irrelevância.



            Comentei extensivamente a fusão da tecnologia da informação com a biotecnologia no meu livro anterior, Homo Deus. Mas, enquanto aquele livro focava nas perspectivas a longo prazo – perspectivas de décadas e até de milênios -, este livro concentra-se na crise social , econômica e política mais imediata. Meu interesse aqui é menos pela criação, no futuro, da vida inorgânica, e mais pela ameaça ao Estado de bem-estar social e a determinadas instituições, como a União Europeia.



            O livro não tenta cobrir todos os impactos das novas tecnologias. Embora a tecnologia encerre muitas e maravilhosas promessas, minha intenção é destacar principalmente as ameaças e perigos que ela traz consigo. Já que as corporações e os empreendedores que lideram a revolução tecnológica tendem, naturalmente, a entoar loas a suas criações, cabe a sociólogos, filósofos e historiadores como eu fazer soar o alarme e explicar o que pode dar errado.



            Depois de delinear os desafios que enfrentamos, na segunda parte do livro examinaremos uma ampla gama de respostas possíveis. Poderiam os engenheiros do Facebook usar inteligência artificial para criar uma comunidade global que vai salvaguardar a liberdade e a igualdade humana? Talvez a resposta seja reverter o processo de globalização e tornar a fortalecer o Estado-nação? Será que devemos retroceder ainda mais, e ir buscar esperança e sabedoria nas fontes de antigas tradições religiosas?



            O autor mostra o cambaleante caminhar em direção ao caos, da sociedade humana, munida com seus artefatos tecnológicos e científicos. Armadura bem a critério dos materialistas, posição em que está colocado o historiador. Não considera os conteúdos racionais e harmônicos que a religião pode oferecer, a não ser colocando de forma irônica que talvez devamos “retroceder” para considerar essas tradições religiosas como forma de garantir a nossa existência com dignidade.



            Ele cita as batalhas ideológicas entre fascismo, comunismo e liberalismo; poderíamos acrescentar socialismo, capitalismo, e outros ismos que não me vem agora à mente. Mas faltou um “ismo” que está de igual forma competindo pela hegemonia na sociedade humana, que é o cristianismo com a proposta do Reino de Deus.  O Cristo colocou as bases de tal sociedade a partir da mudança de perfil do nosso coração individual para se alcançar o Reino coletivo, sem necessidade de mortes, terrorismo, corrupção e falsas narrativas.



            Por que pessoas tão inteligentes e cultas como o professor Yuval não coloca em discussão essa proposta que ao meu ver é tão mais preciosa?



Publicado por Sióstio de Lapa em 19/01/2022 às 22h30


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr